Eis o ponto principal que pretendo abordar aqui: a famigerada ponderação que todo cidadão adulto, com a sanidade razoavelmente em dia e com o mínimo de formação ético-social deveria ter.
A alegação de que haveria componentes de organizações criminosas, traficantes e outros tipos de pessoas, cujas condutas o Estado deve combater, nas dependências do Ministério da Justiça é uma acusação grave. Por sua vez, todos que estão ali, especialmente o titular da pasta, são pessoas politicamente expostas e, por isso, devem mais explicações públicas do que o contrário.
A autoridade pública se baseia no poder que a lei lhe confere, mas também na legitimidade do cargo – que vai além da legalidade. É preciso que a população e as demais autoridades do país vejam naquele agente determinado uma postura condizente com o cargo que ocupa. Daí porque simplesmente mandar “calar a boca” ou encerrar entrevistas não é um bom caminho para a legitimidade como a gente cansa de ver por aí.
Continuando esta linha para mostrar que tudo deveria ser um bocado mais complicado do que se coloca, temos a figura do cidadão que é bombardeado com essas informações. As pessoas, em geral, têm interesse em saber o que ocorre no país e, se forem um pouco mais atentas, querem também saber o que fazem as pessoas que gastam os tributos que recolhemos.
Ou seja, havia relativamente poucas fontes de informação e, neste contexto, na tentativa de criticar o modelo editorial de um veículo ou outro, questionava-se se a informação difundida era a “opinião pública” ou a “opinião publicada”. O trocadilho tinha uma premissa interessante (que à época era óbvia, mas hoje tem outro peso): antes de uma informação ser divulgada, havia um filtro editorial que permitia colocar a situação tal como era possível colocar, de modo a preservar a linha editorial (não sejamos ingênuos, todo mundo tem lado nesta vida) e a veracidade da informação.
Em um extremo oposto está o mar da internet! De repente, alguém (sempre tem um) decidiu testar o que aconteceria se uma informação fosse distorcida para gerar um impacto determinado. Pronto... abriu-se a caixa de pandora.
E não se engane achando que eu estou falando dos tios e das tias do zap! A ignorância tecnológica é generalizada em todas as gerações e classes sociais. A inabilidade de lidar com todo esse ferramental tecnológico disponível nos deixa completamente vulneráveis, tornando-nos, por vezes, ingênuos multiplicadores (e legitimadores) de interesses escusos alheios.
Nunca foi tão bem ajustado o conceito de massa de manobra.
Diante de uma situação como esta, o que eu gostaria de ouvir de um parlamentar da oposição? Algo do tipo: “recebi com preocupação a notícia de que existe a denúncia de contato do Ministro da Justiça com pessoas que ele, como titular da pasta da Justiça, deveria combater. Espero, com a maior prontidão, as devidas explicações do Ministro para que os fatos sejam esclarecidos. Se provado o fato, eu como membro da oposição, envidarei todos os meus esforços para que o Ministro tenha a devida responsabilização pelo fato, inclusive com a perda do posto, que não está à altura de quem pratica condutas como as alegadas. Após as explicações do Ministro voltarei a me manifestar”.
Olha que legal! Passar pano? Jamais! Afinal, a oposição serve para lembrar ao governo da vez, dia sim dia também, que não há um passo que se dê sem ser visto. É desta forma que a oposição mostra o seu valor democrático. Na verdade, não existe democracia sem oposição, de modo que a existência de um “chato” com uma lupa na mão vigiando o governo é condição necessária para a existência de um ambiente democrático. Eu gostaria muito de ver os parlamentares da oposição se manifestando assim.
Essas mesmas autoridades amanhã podem ser o alvo de acusações desta natureza (como já ocorreu) e reclamarão, aos quatro ventos, que estão sendo alvo de perseguições e mentiras. E muito pior do que isso, essas autoridades pautam e legitimam a conduta de inúmeras pessoas que consomem o conteúdo que essas autoridades produzem.
Ou seja, as pessoas que deveriam ser a foz forte da razão e da oposição se tornam agentes do caos (inclusive contra si próprias!), o que em nada contribui para o nosso já combalido quadro de distúrbio informacional e abandono da verdade.
O final desta história não sabemos, mas fatalmente será muito ruim se não começarmos a desconfiar do que lemos na internet, passarmos a nos educar sobre as questões informacionais e nos habituar a lidar com múltiplas fontes de informação para formar opinião própria. O cenário atual é perfeito para os canalhas e um desastre para quem tem respeito pelos limites, o que faz com que, para variar, todo o prejuízo se volte contra nós.